Terrorismo.
Como vamos entrar em programação especial de final de ano aqui no Desfavor, no sábado faremos o Desfavor do Ano e não só da Semana. Então eu posso escrever sobre esse tema sem medo de avançar o sinal. Como muitos ficaram sabendo, um bolsonarista foi preso acusado de colocar uma bomba num caminhão de querosene de aviação que ia para o aeroporto de Brasília. Na sua cabeça, isso criaria as condições ideais para começar um estado de sítio. No começo eu achei a palavra terrorismo pesada, mas… não tem outra, né?
Sempre vou olhar o lado fanático para saber qual é a conspiração da vez, e não me surpreendi quando vi que estavam chamando de armação. Dizem que o maluco da bomba tinha sido plantado no “movimento patriota” pela esquerda. Era só um truque para dar legitimidade à limpa que pretendem fazer na frente dos quartéis e o endurecimento da repressão aos defensores do golpe militar.
É impossível? Não, não é. É razoável? Não, nem um pouco. Impossível é uma palavra cheia de armadilhas. Não é impossível que alienígenas reptilianos controlem a humanidade, mas dizer a frase não significa considerar seriamente a possibilidade. É uma espécie de armadilha lógica. É impossível que você ganha sozinho a megasena da virada? Não, não é. Isso quer dizer que você já pode sair gastando o dinheiro do prêmio? Pois é…
Vou partir do princípio muito mais lógico que tenha sido mesmo um plano realizado por fanáticos políticos, e que até por causa disso, tenha falhado por falta de capacidade de fazer algo direito. Nesse momento, a sorte do país é que os nossos patriotas não são lá os mais brilhantes que temos a oferecer em material humano. O passar das semanas foi filtrando o povo restante na frente dos quartéis, e agora temos uma proporção muito alta de gente realmente descompensada por lá.
Gente descompensada, mas não totalmente burra. Algumas cabeças ainda sobraram, e elas sabem manobrar esse povo: eles querem ter a cena da polícia expulsando os “patriotas” da frente dos quartéis, de preferência com violência. Afinal, assim vão ter mais material de propaganda numa narrativa de “intolerância comunista” que vão tentar empurrar durante o governo Lula. Como eu já tinha dito antes: me preocupa como os bolsonaristas radicais vão poder se vestir de vítimas nos próximos anos, e com isso parecerem mais simpáticos.
A inércia do poder público até agora é parte desse jogo. O governo atual evita o problema de fazer algo impopular, especialmente contra sua base eleitoral, e deixa a batata quente na mão do adversário. Lula e seu time vão ter que fazer alguma coisa mais séria contra os manifestantes antidemocracia. Não vai ser bonito.
Mesmo eu com meus vários arroubos antiautoritários não posso ignorar a necessidade de reprimir com força esse povo. Realmente foi conveniente que um deles tenha tentado fazer um ato terrorista, mas não é como se fosse um povo 100% paz e amor desde o começo. É a turma que acha que arma resolve segurança pública. Que acredita em conspirações das mais nefastas e que enxerga o adversário político como literalmente um demônio. Não é fora do razoável que tenha sim gente lá dentro disposta a matar e a morrer pela causa.
Quando entramos no universo do terrorismo, acaba a hora da conversa. Não são todos, mas eles estão sendo protegidos pelo movimento. Até mesmo a vontade de acreditar que tenha sido um golpe da esquerda para sujar a imagem deles é sinal de que algo está muito errado na cabeça dessa gente e que elas vão alimentar células terroristas dada a oportunidade. Se alguém de lá de dentro cometer um atentado horrível, inventar uma explicação furada para dizer que não era um deles é sim um jeito de apoiar terrorista. A pessoa pode ter a certeza de que só faz o bem e só quer a paz e mesmo assim ser apoiadora de terrorista.
É um dos poucos casos onde eu advogo repressão violenta do Estado. Mesmo num mundo ideal, terrorismo não pode ser questão de conversa. Lula está amarrado até dia 1º de janeiro de 2023, mas depois não pode vacilar. Organizações criminosas são perigosas justamente porque as pessoas conseguem se unir para fazer coisas cada vez maiores. Um reforça a mentalidade do outro, um oferece recursos para o outro.
A minha preocupação é que com o resultado apertado das urnas, o governo que vai assumir tenha medo de ser tão duro quanto seria necessário. O perigo não é eles conseguirem derrubar o sistema brasileiro, porque tem muito dinheiro e interesse segurando as coisas no lugar agora, o perigo é o que um grupo progressivamente mais violento pode fazer num país indefeso como o Brasil.
Não, o patriota da explosão não inventou o conceito de terrorismo no Brasil, não precisa ir muito longe para ver grupos do tipo enfrentando o governo militar há algumas décadas, e até mesmo o futuro ex-presidente Bolsonaro foi mandado embora do exército por um plano envolvendo uma bomba. Terrorismo não é um novo conceito, mas o grau de proteção que o Brasil tem contra isso é muito pequeno.
As pessoas esperam esse tipo de ameaça violenta do crime organizado, que por mais perigoso que seja, normalmente tem algum objetivo material nas suas ações. Com isso o Estado brasileiro lida. Lida mal, com acordos escusos ou mesmo massacres violentos, mas lida. Agora, terrorismo? Quem se lembra do que o PCC fez no estado de SP em 2006 sabe que quem quiser tocar o caos no país consegue. Não tem rede de inteligência tentando se adiantar, não tem gente suficiente nas polícias para coibir.
Por mais que eu acredite que o Pilha vire presidente antes do Bolsonaro virar ditador, não muda o fato de que está se formando um grupo de malucos cada vez mais afeitos à violência em frente aos quartéis brasileiros. É engraçado quando eles pedem ajuda dos alienígenas apontando o celular para cima, mas um subgrupo desses malucos já fez um “arrastão patriota” no começo do mês e agora pegaram uma fuckin’ bomba embaixo de um caminhão de combustível. Eles apertaram o botão para detonar, mas não funcionou.
Não faz muito tempo, escrevemos aqui como não adianta ir só com raiva para cima dessa gente, que a maioria ali precisa de um plano de saída da radicalização político-religiosa do bolsonarismo, mas agora fica claro que tem uma parte que já passou do ponto lá dentro. Sim, sempre a favor de curar a doença, mas sem esquecer que precisa amputar o que já está podre para salvar o resto.
Só que no país do jeitinho, eu prevejo algumas ações mais sérias aqui e acolá, mas que polícia e militares vão tentar lidar com isso sem causar muita ruptura com essa massa de imbecis que os veneram como salvadores da pátria. “Ela é barraqueira e descompensada, mas lambe o chão que eu piso…”
E ao mesmo tempo, como já dito antes, temos um governo que vai pensar duas vezes antes de antagonizar bolsonaristas com a dureza necessária. O povo brasileiro é muito sem noção, os bolsonaristas podem se animar de novo com cenas de expulsão violenta dos “patriotas” da frente dos quartéis. E aí, é facinho esquecer o maluco da bomba, ou mesmo achar que foi um agente implantado pelos comunistas.
São as dores de uma sociedade onde a verdade não é mais consenso. Algo se quebrou com o aumento exponencial de pessoas que ganham a vida inventando e repetindo conspirações. Você precisa se preocupar não só com fatos perigosos, mas com versões perigosas deles. A verdade é que o bolsonarismo precisa ser esmagado, não por causa da parte política, mas por causa do culto de personalidade e a mistura bizarra com religião.
Mas novamente, na era da pós-verdade, nem sei mais se é possível esmagar um culto do tipo. Nem se o ex e futuro presidente tivesse coragem de não fazer as coisas no jeitinho. A triste realização depois dessa tentativa frustrada de atentado terrorista é que estamos dependendo puramente da sorte para não vermos mais coisas do tipo acontecendo.
Não tem estrutura de proteção, quem tem que coibir ou está conivente ou está com medo de perder popularidade… e é basicamente impossível saber o que metade da população brasileira está pensando sobre atentados violentos para tentar instaurar uma ditadura militar no país. Muito provavelmente por não entendem nenhum dos conceitos envolvidos nisso.
Na dúvida, faça como os EUA, que não vão mandar ninguém insubstituível para a posse do Lula. Considere que mesmo que o país não tenha grande histórico de terrorismo, é tão fácil fazer e vai ter tanta má vontade para coibir que é melhor não se colocar em situações de risco. Só a incompetência dos “patriotas” nos protege agora.
O que não deveria ser o plano A.
Muito embora vá ser o plano A.
Para dizer que daqui a pouco eu vou postar só de noite (acabou a energia), para dizer que na próxima eleição vota em mim, ou mesmo para dizer que eu obviamente fui comprado pelos comunistas reptilianos: somir@desfavor.com
Desfavores relacionados:
Etiquetas: bolsonaro, brasileiro médio, terrorismo, violência
Anônimo
Como sempre, fui censurado por esfregar-lhes na cara a ESTUPIDEZ de ser condescendente com pessoas que SEMPRE FORAM TERRORISTAS. Nunca admitirá que errou, seu CAGÃO?
Somir
Comeu cocô? O texto literalmente avisou sobre o que ia acontecer. Maldito analfabetismo funcional…
Ge
Esse é o tipo de texto que me deixa apreensivo, preocupado, e me faz pensar que teremos que lidar com isso nos próximos anos independente de quem assuma o poder.
Anônimo
Como se já não tivéssemos problemas o suficiente…
Anônimo
“A triste realização depois dessa tentativa frustrada de atentado terrorista é que estamos dependendo puramente da sorte para não vermos mais coisas do tipo acontecendo”. Agora eu fiquei preocupado…
Anônimo
Eu acho que, mesmo não sendo conspiracionista, não se deve apagar aquela chama do “e se?” da sua mente.