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Sua fofoca mata.

Sua fofoca mata.

| Sally | | 20 comentários em Sua fofoca mata.

Provavelmente todos vocês estão cientes da polêmica, mas aqui vai um breve resumo: uma página de fofocas postou online um print de uma conversa via WhatsApp entre Whindersson Nunes e uma menina, dando a entender que existia algo entre eles e que a menina de alguma forma era remunerada por isso, o que em bom português, é prostituição. Abro aspas: “Na sequência, o humorista estava disposto a pagar para a moça encontrá-lo”. Imediatamente várias páginas de fofoca começaram a reverberar a informação.

A menina, que se chamava Jessica Vitória Canedo, fez um grande texto rebatendo ponto a ponto e desmentindo tudo, afirmando ainda que não estava bem e que esse tipo de mentira contribuía para piorar sua saúde mental. O administrador da página foi lá e respondeu com um deboche ao desmentido da menina e a todo o sofrimento que ela contava estar passando.

A mãe da menina fez um vídeo se dizendo preocupada com a filha, pois ela já estaria deprimida e a situação estaria deteriorando ainda mais sua saúde mental. Ela implorou para que apaguem essas postagens pois, além de serem falsas, estavam causando enorme sofrimento à sua filha. O vídeo foi ignorado.

Whindersson fez postagens e vídeos desmentindo, afirmando que sequer conhecia a menina e que se não parassem com as mentiras, alguém acabaria preso. Mandou uma mensagem diretamente para o perfil que começou a disseminar a fofoca afirmando que os prints eram falsos e pedindo que removam essa mentira de suas redes sociais. Também foi ignorado.

Depois de um grande esforço de todos os envolvidos, a postagem continuava lá. A menina acabou se suicidando. As conversas de WhatsApp se provaram falsas, foi tudo deliberadamente inventado.

Uma das principais divulgadoras desses prints falsos foi a página Choquei, que também sugeriu que Whindersson estava pagando à menina para se encontrar com ele. Um dado curioso que deve ser dito é que a Choquei é uma página de lacração amiga do governo Lula. Foi nela que a mula da Janja disse que só as empresas seriam taxadas nas comprinhas no exterior. Seus administradores participam de reuniões com Lula o tempo todo para prestar assessoria (junto com Felipe Neto), e isso não é um palpite meu, tem inúmeros registros e fotos, como essa que está abaixo.

Choquei é uma das muitas páginas no estilo que são agenciadas por uma mesma empresa. São essas páginas que ditam o que é “certo” e “errado” nas redes sociais. Quando Leo Lins faz piada que não gostam, são eles quem organizam a campanha contra, enviando o roteiro do que tem que ser dito por e-mail para todos os influencers e pessoas que comandam perfis falsos. Foram eles os autores do bordão “sua piada mata”. Pois adivinha só? O que mata é a sua fofoca.

Todos os perfis que você vê na foto que ilustra esta postagem são agenciados por uma empresa chamada Mynd, que pertence à Preta Gil, ao publicitário Carlos Scappini e a sua CEO Fátima Pissarra. E essas são apenas as páginas, ainda tem os influenciadores e os perfis falsos.

Ao todo, a Mynd agencia mais de 400 influenciadores. Isso significa que, pela quantidade de seguidores que eles somam, têm a capacidade de manipular a opinião pública online. O que isso quer dizer: eles conseguem fazer barulho suficiente para passar a impressão de que uma maioria está contra ou a favor de algo e com isso intimidar quem pensa o contrário, pressionar patrocinadores e até empresas.

Um caso emblemático aconteceu com uma de suas agenciadas, Luisa Sonza. Quando uma acusação (que ela acabou por confessar) de racismo veio à tona, a máquina da Mynd entrou em ação. Se fosse um humorista politicamente incorreto, teriam trucidado, se fosse um bolsonarista, teriam trucidado, mas, apesar de branca cis, é da panela, é uma que fez campanha para o PT e a uma das suas agenciadas. Então, a ordem foi limpar a barra dela. O roteiro passado para todos foi: não aconteceu. Todo mundo negou.

Luisa Sonza negou. Ato contínuo, perfis de notícia e de fofoca postaram informações que davam a entender que não era verdade. Influenciadores postavam coisas que davam a entender que não era verdade. Perfis falsos (e eles dominam milhões) postavam afirmações para desacreditar a moça que acusava Luisa Sonza de racismo, alguns, inclusive, diziam que estavam lá na data do ocorrido e viram que não aconteceu nada.

Pois bem, mesmo recebendo uma proposta para ficar em silêncio, a moça decidiu judicializar a acusação de racismo e começou uma investigação, que acabou por apontar que de fato aquilo aconteceu (tem sempre alguém com um celular filmando, né?). A Mynd recalculou a rota e mandou um novo roteiro para seu arsenal online (páginas de notícias, páginas de fofoca, influenciadores e perfis falsos). Agora era para admitir que aconteceu, mas botar a culpa no racismo estrutural, ou seja, dividir essa culpa com a coletividade, mais ou menos o mesmo que estão fazendo agora.

E colou. Não pelo fato de as pessoas serem idiotas ou terem sido convencidas, colou pela avalanche de perfis corroborando, pela massificação dessa versão, pelo poder que o efeito manda exerce. Deixou a impressão de que era verdade por ter sido postado exaustivamente. Sim, isso é possível. Não subestimem o poder da Mynd, ela é a empresa mais relevante da história do marketing brasileiro.

Ela promove uma distribuição de conteúdo em forma de pirâmide, isto é, um de seus agenciados posta algo e todo o resto comenta, reposta, reverbera, causando no algoritmo e na cabeça das pessoas uma sensação de que todo mundo está falando sobre isso, de que todo mundo concorda/discorda disso. O assunto se torna viral, mas de forma artificial. São assuntos que não interessam a ninguém, como a farofa da GKey mas que aparecem o tempo todo e até mesmo assuntos envolvendo política, como a anta da Janja falando sobre taxação.

E foi assim no caso de Jéssica, reverberaram o assunto até massificá-lo, sem se importar com os desmentidos e apelos. Uma página chamada “Garoto do Blog” postou a conversa e todo o resto divulgou. No entanto, uma teve especial relevância: a Choquei. Além de fazer uma campanha com maior alcance, a Choquei, através de seu administrador, resolveu não apenas ignorar, como também debochar do desmentido e do desabafo da menina e ainda insinuar prostituição.

E nesse ponto vocês podem estar se perguntando que interesse eles teriam em fazer isso. Bem, eles não se limitam a divulgar. Na verdade, eu diria que divulgar coisas é só a operação de fachada deles. O grande lucro vem do oposto, de atacar, detonar, moer reputações, mas é claro, em off, afinal, eles são os representantes do amor.

Todo esse conglomerado de pessoas também recebe dinheiro (inclusive público, mas não de forma oficial) para prejudicar personalidades públicas que, de alguma forma, estão atrapalhando, incomodando ou simplesmente não fazem parte da ideologia que eles entendem como correta.

Pessoas que se deram ao trabalho de cruzar as postagens de todos os vinculados à Mynd perceberam que os ataques são sempre coordenados, com textos iguais e com horas de postagens calculadas para manter o assunto sempre em alta. Isso gera uma percepção no público de que o que aquela pessoa fez deve ser mesmo reprovável, pois todo mundo está contra e também gera uma percepção nos patrocinadores de que é hora de pular fora para não se queimar.

E não estamos falando só de artistas, a Mynd também faz o mesmo com políticos, notícias, atletas ou qualquer pessoa que tenha projeção suficiente para incomodar.

Só pode ser disseminada a agenda deles, a pauta que eles querem, os valores que os beneficiam. E dá certo, viu? Faturam mais de dois bilhões de reais por ano só com divulgação oficial. Estima-se que faturem quase o dobro disso com os ataques extraoficiais. Então, se havia alguém com interesse em atacar o Whindersson (lembrando sempre que a ex dele é agenciada pela Mynd), isso justificaria qualquer esmerdeio sem limites.

A Choquei se pronunciou através de uma nota escrita pelo seu jurídico dizendo, em bom português, que não tem culpa de nada. O arsenal da Mynd (perfis falsos, influenciadores, páginas de fofoca e páginas de notícia) estão usando a estratégia de sempre: compartilhar a culpa. Dizem que não é culpa de X ou de Y, que estamos em uma sociedade problemática, cultura de ódio etc.

E, para piorar a situação, estão empurrando a porcaria do Projeto de Lei 2630/20 que quer “regular” a internet, conhecido como PL da Censura. Como já explicamos em outro texto as razões pela qual esse projeto de lei não vai impedir nada, apenas servir de mordaça para desafetos do governo, não vamos aprofundar nesse mérito. Basta dizer que a única coisa que esse Projeto de Lei faria seria impedir as pessoas de acusar o perfil Choquei.

E, por gentileza, parem de chamar o ocorrido de “Fake News”, pois só dá força para PL da Censura. Não é notícia. Dizer que uma menina está fazendo sexo em troca de algo é difamação, não notícia. Não divulgaram uma notícia falsa, cometeram crime de difamação contra a moça. Hora de começar a usar o termo “Fake News” com mais responsabilidade.

Seria lindo acreditar que é possível regular a internet. Talvez até seja, mas não com esse Projeto de Lei. Por hora, a única forma de combater isso é não consumir esse tipo de conteúdo. A máfia da Mynd tem bilhões de seguidores a seu dispor (isso mesmo, não são milhões, são bilhões). Enquanto as pessoas consumirem isso, nada vai pará-los.

Ou melhor, quase nada. Temos Super Elão, o super-herói mais retardado que você já viu, mas que às vezes dá uma bola dentro, justamente por ser maluco.

Elon Musk criou uma coisa chamada “Notas da Comunidade” no Twitter (atualmente chamado de X). Funciona da seguinte forma: se você vê uma informação falsa, pode escrever uma nota informando isso e linkando fontes confiáveis que provem. Se a maioria dos usuários do Twitter achar sua nota útil, ela passa a ser exibida junto com o tuíte mentiroso. E, a melhor parte: esse tuíte é desmonetizado, ou seja, quem postou perde a remuneração e de quebra também o alcance, pois o Twitter o mostra para menos pessoas.

O que o tuiteiro fez? Foi no perfil da Choquei e colocou notas da comunidade em cada uma de suas postagens, dizendo que o perfil mente e que foi responsável pela morte de Jéssica. E foram aprovadas pela maioria, portanto, hoje são exibidas e a Choquei perdeu todo o dinheiro que ganharia com as postagens. Sim, Elon Musk fez mais pelo ambiente digital do que o governo brasileiro.

Apesar da morte de Jéssica ser uma tragédia terrível, este texto não é sobre ela. Sua morte abriu espaço para falar sobre algo maior: essa máfia online organizada pelo pessoal do amor, pelas pessoas de bem, pela beautiful people que critica gabinete do ódio mas faz pior. Os danos que essas pessoas provocam vão muito além dessa morte, pensem em quantas pessoas já tiveram suas vidas e reputação arruinadas e saíram impunes por isso. Pensem no quanto manipulam a opinião pública sem que a maioria perceba. PL nenhuma vai ajudar a resolver esse problema.

Este texto é para te lembrar que essa máfia existe e que eles manipulam a percepção sobre temas tratados em redes sociais. Não são maioria, mas sabem como fazer para parecer maioria. Estejam sempre cientes disso. Lembrem-se sempre disso ao ler qualquer coisa em redes sociais.

Basicamente, o que você precisa saber sobre essa tragédia é que piadas não matam, ao contrário do que te diz o pessoal da Mynd, o que mata é um sistema organizado que se dedica a atacar, moer reputação e linchar virtualmente para fazer valer a sua agenda.

E que isso não se regula com projeto de lei. Assim como a Lei Maria da Penha não impede agressão a mulheres, PL da Censura não vai impedir nada. Por sinal, já existem leis o suficiente para punir que faz isso, como o Marco Civil e o próprio Código Penal, o que falta é vontade de punir os amigos do rei.

Então, não seja canalha e não suba no corpo de uma menina morta para fazer palanque político. Faça a única coisa que resolve: não siga esse tipo de página, não consuma esse tipo de conteúdo e sempre desconfie de ataques virtuais a alguém, eles podem muito bem ser pagos e coordenadas para atender aos interesses de uma meia dúzia de escrotos.

Para finalizar, eu te pergunto: se uma menina se matasse depois de ser escrotizada e chamada de prostituta por um perfil cujo administrador está direta e inequivocamente vinculada Jair Bolsonaro, como as pessoas estariam reagindo? Pois é, foi o que eu pensei…

Para perguntar onde está Preta Gil que sempre se disse contra ataques virtuais (está apagando todos os comentários em suas redes sociais que lhe cobram um posicionamento), para dizer que por muito menos Monark foi banido do mundo virtual ou ainda para dizer que cada vez mais difícil desgostar do Elão: sally@desfavor.com


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