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Cérebrofobia.

Cérebrofobia.

| Desfavor | | 30 comentários em Cérebrofobia.

+O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quinta-feira que colocará para votar um requerimento de urgência do projeto de lei que torna a “cristofobia” crime hediondo. De autoria do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), o texto aumenta a pena de ultraje a culto para até oito anos de prisão.

Porque ISSO é urgente. Bons os tempos dos leões no Coliseu. Enquanto não for crime criticar esses imbecis, desfavor da semana.

SOMIR

Deve ser realmente difícil viver como um cristão no Brasil. 92% do povo diz acreditar em alguma divindade, e praticamente todos esses se denominam católicos ou evangélicos (3% se dizem de outras religiões). Não se joga uma pedra no Brasil sem acertar um cristão. E aparentemente, eles estão levando muita pedrada! Só isso para explicar o dramalhão todo feito no Congresso. Quer dizer, isso ou uma cara-de-pau espetacular!

Vamos tirar algo logo do caminho: duvido muito que qualquer um dos pilantras chorando pelas “ofensas” à sua crença ridícula e irracional realmente se importem com isso. Eles são profissionais do voto. Fazem o que fazem para manter a boquinha de ganhar muito para não trabalhar por mais e mais mandatos. Basta ter um pouco de cérebro para perceber o oportunismo, até porque a bandalheira da política tupiniquim dificilmente segue preceitos cristãos. Muitos camelos passarão por buracos de agulhas antes desses aí irem para os céus.

Sally entende muito mais de direito, e com certeza vai arrebentar com todas as asneiras técnicas envolvidas no caso. O que me permite seguir um caminho diferente: algo não te soa estranho se defensores da religião de 9 em cada 10 brasileiros se dizem perseguidos? Não só pela lógica numérica, mas pela ideia de que provavelmente são os próprios cristãos que estão jogando contra a causa. Quem nos acompanha há mais tempo já sabe que não temos fantasia alguma de brasileiro fazendo qualquer coisa direito, mesmo que seja acreditar no Papai Noel e fingir ser bonzinho para ganhar um presente bacana depois de morrer.

Minha teoria é que o brasileiro acredita muito em deus, mas não é nem um pouco religioso. A parte bisonha de suspender a noção de realidade parece fácil, a que possivelmente traria ganhos na vida pessoal nem tanto. Eu acho que moralismo (moral = repetição de comportamento alheio / ética = consideração racional e empática de justiça) só deixa uma sociedade estagnada, mas as religiões pregam sem parar que podem ensinar as pessoas a viver melhor. Mas o brasileiro acredita no amigão imaginário e mesmo assim continua fazendo todas as merdas que em tese “só quem não tem deus no coração” faria.

A religião mais popular do Brasil é a burrice, com nomes diferentes. E aí eu começo a sentir firmeza nos políticos dramatizando com uma suposta perseguição religiosa de cristãos. Tem coisa mais burra do que acreditar em “cristofobia”? A completa ausência de razão no desenvolvimento das ideias expressadas reflete sim a população média. E aí, por incrível que pareça, as coisas se invertem e eu começo a entender a perseguição! Porque o maior inimigo do burro é ele mesmo! Se esses são os cristãos brasileiros, eles correm muito risco.

Estão querendo praticar uma manobra Maomé no Brasil! Punir com dureza excessiva o que em países menos enfiados na lama da ignorância generalizada é visto como liberdade de expressão. Quanto mais próximos do radicalismo religioso, pior ficamos. Tenha em vista TODOS os países e povos da história que seguiram por esse caminho. Esse tipo de chilique de cristão se sentindo perseguidos é hilário pela burrice galopante, mas é assustador também: o imbecil é capaz de explodir a própria casa para lidar com uma mosca incômoda.

Sim, vamos rir da estupidez, sim, vamos debochar do claro oportunismo de vir a público defender a causa de mais de 90% da população de um país, mas é bom entender bem esse mecanismo. Religiosos médios (vulgo brasileiros médios) são tão limitados intelectualmente que realmente se acreditam perseguidos. Basta alguma figura de autoridade dizer. Não tem capacidade de analisar os fatos e entender contextos, só acreditam no que lhes é mais fácil de acreditar.

Sally que me corrija, mas há uma certa proteção para ignorância extrema tanto na lei quanto nas mais altas cúpulas do poder brasileiro. Não acho que isso vá realmente para a frente (embora jamais duvide), mas podem ter lançado uma ideia perigosa que se alastra rapidamente em cabeças vazias. No Oriente Médio e na África, principalmente, estupidez de fundo religioso causa danos horríveis para a estrutura social do país. Povos com baixíssima educação feito o nosso são extremamente suscetíveis a conceitos assim.

E pior, como o brasileiro costuma ser uma merda de um religioso, vão realmente enxergar problemas para todos os lados que olharem. Figuras de autoridade religiosas vão ter extrema facilidade de jogar seus imbecis contra os imbecis alheios. E provavelmente não vão perceber que são uma maioria tão imensa que fatalmente estarão brigando entre si. Sim, eles se sentem perseguidos, mas pelas próprias sombras. Medo de isso virar um círculo vicioso até o país regredir demais.

Pessoalmente eu achei uma babaquice aquela coisa da moça aparecer crucificada na parada gay, mas não mais babaquice do que os religiosos fazem habitualmente. O culto ao dramalhão e ao excesso fazem parte do cristianismo. Aliás, são sua base. Imagina só que o símbolo deles é um instrumento de tortura! Se fosse um crente pendurado numa cruz fazendo protesto contra os gays, esses mesmos imbecis oportunistas teriam batido palmas.

O desfavor não é só a maluquice de acreditar em “cristofobia”, é o cenário triste de ignorância que permite que essa ideia seja desenvolvida. E infelizmente, é perigoso deles nos matarem antes de se matarem, porque repito: o maior inimigo do burro é ele mesmo.

Para dizer que eu vou ser preso por este texto, para dizer que essa fixação pelo cu alheio está saindo do controle, ou mesmo para dizer que vota nulo para não votar em religioso: somir@desfavor.com

SALLY

Um projeto de lei do deputado ROGERIO ROSSO, do PSD (essas pessoas tem nome, e é importante que ele seja divulgado) busca aumentar a pena para crimes de “ultraje a culto” para OITO ANOS de prisão e ainda o transforma em crime hediondo. Esse projeto, absurdo e descabido, não só vai ser colocado em votação, como ainda será votado em regime de urgência, ou seja, vai furar a fila de outros projetos que já tramitavam antes. O projeto de lei, segundo seu próprio autor, busca combater a “cristofobia”.

Nem sei por onde começar. Juro, nem sei por onde começar. Se é por um Estado Laico dando regime de urgência a uma tramitação inconstitucional dessas, se é pelos projetos importantes que estão ficando para trás em função dessa palhaçada, se é pela hipocrisia de ver gente que esculhamba com outras religiões falando em “cristofobia”, se é por ver nascer mais um grupo de intocáveis/ofendidos tentando cercear a liberdade de expressão… são tantas emoções, que eu não sei mesmo por onde começar.

Vou começar pela parte técnica, que é algo que eu sei que o Somir não vai abordar. Um projeto de lei deve atender alguns requisitos para que chegue a ser colocado em votação. O objetivo é não fazer todo mundo perder tempo, tanto os parlamentares como a sociedade. Para quem não sabe, a tramitação e o voto de um projeto de lei consomem dinheiro público, entenda-se, dinheiro seu e meu. E esse projeto contra a “cristofobia” não deveria nem mesmo ser colocado em votação.

O projeto prevê o aumento de pena para oito anos e a transformação do crime em crime hediondo, o que implica, além do aumento de pena, em um regime mais duro no cumprimento dessa pena. Ou seja, cadeia. Mais cadeia. Muita cadeia. Na contramão de qualquer país desenvolvido, que sabe quea carcerização tem que ser a última das últimas soluções. E, só para constar, o que aconteceu nem de longe se caracteriza como crime de ultraje ao culto, que seria ridicularizar publicamente a fé de alguém, não de uma forma genérica, esse escárnio TEM QUE estar direcionada a uma pessoa específica.

Mas eu nem peço essa visão, o brasileiro não conhece a porra do Código Penal do país em que vive e ainda acha que prender é a única forma de combater qualquer coisa e eu já desisti tanto de explicar, que até o direito abandonei. Fechando os olhos para a inexistência do crime e para a ineficiência da pena de prisão nos moldes em que é aplicada hoje, vale lembrar que, mesmo que o crime tivesse ocorrido e mesmo que a pena seja aumentada, não tem mais espaço no sistema penitenciário atual. NÃO CABE MAIS GENTE, e insistem em continuar voltando os esforços para prender cada vez mais.

Ok, abstraindo também a questão da impossibilidade física, esse projeto continua um absurdo. A pena de oito anos é totalmente inconstitucional. Mas olha, totalmente. Não paira nem uma sombra de dúvida. Ela não respeita o Princípio da Proporcionalidade. Se você estipula uma pena de SEIS anos para um homicídio, para uma pessoa que perdeu uma vida, não pode estipular uma pena de OITO anos para alguém que de alguma forma supostamente falta com o respeito a uma religião. Percebem o grau de absurdo? Que bom, pois a bancada religiosa e o presidente da Câmara parecem não perceber.

Outra atrocidade: geralmente projetos de lei penal votados assim, em regime de urgência, advém da forte comoção social por algum crime que esteja abalando a sociedade. Eu entenderia uma coisa dessas depois de casos de estupro coletivo. Mas nesse caso, a lei foi uma reação a uma modelo transexual que desfilou na Parada Gay semi-nua, em uma cruz, fazendo referência a Jesus, com os dizeres “basta de homofobia com GLBT”. Não vejo como isso afete de forma nociva a sociedade. Entendo que religiosos não gostem, mas só. Nada além disso. E democracia é isso, é ter que ouvir coisas que não concordamos em nome de um bem maior chamado “liberdade de expressão”. A intenção nem era escarnecer, e sim protestar.

Tudo agora é “fobia”. Homofobia, cristofobia, caralhoaquatrofobia. Não aguento mais. Especialmente esses fiscais do cu alheio fazendo alarde por nada, quando tem tanta coisa grave e importante acontecendo no país. Alô, religiosos, deixa eu trocar uma ideia com vocês só um minutinho: se Deus desgosta tanto dos homossexuais, por qual motivo ele colocou o Ponto G do homem dentro do cu? Reflitam.

Eles podem linchar na rua e matar uma pessoa por um boato de internet dizendo que fazia magia negra. Eles podem hostilizar praticantes do candomblé até dizer chega. Eles podem demonizar ateus e denegri-los em praça pública. Mas quando alguém faz algo que os incomoda, que os fazem sentir ofendidos, correm para o Poder Legislativo, em um Cartel de Cristo, exigindo que seja estipulada uma pena maior do que a de homicídio. Tá errado, tá muito errado. Tá muito errado mesmo. Desgosto profundo quando li essa notícia. Ver evangélicos e católicos unidos é como ver Sauron e LordVoldermort dando as mãos.

Eu desgosto do que eu quiser, sem ser acusada de fobia de porra nenhuma. Eu faço piada com o que eu quiser. Eu falo mal do que eu quiser. Eu cresci na década de 80, onde todo mundo era livre, não vão me calar agora. Eu aprendi a ser livre. Essa nova geração, que já nasce com uma mordaça na boca, pode até ser que calem, mas eu vou me indignar até o último segundo com absurdos como esse.

EU NÃO ADMITO que se cogite colocar na cadeia alguém critica de qualquer forma religiões que proíbem mulheres de usarem camisinha e contribuem para a disseminação da AIDS, religiões que tomam 30% do rendimento de trabalhadores mal remunerados, religiões que tem um históricos de morte, tortura, fogueira e intolerância. EU NÃO ADMITO. E acho que ninguém com cérebro deveria admitir. O simples fato de se colocada em votação já é uma violação à Constituição.

Somos o sapo na panela de água quente. A água vai esquentando aos poucos e o sapo vai morrendo sem sentir. Nossa liberdade de expressão está sendo tolhida pouco a pouco e a maioria não está percebendo. É por isso que hoje eu grito: NÃO ADMITO que a bancada religiosa determine com o que eu posso brinca ou protestar. NÃO ADMITO, NUNCA VOU ADMITIR. NÃO PERMITO que me tomem um direito que eu sempre tive e que é constitucionalmente garantido. Ateufobia que é bom, eles nem falam, né?

Eles acharam isso cristofobia? Coitados. Espera para ver o que eu vou fazer se essa lei passar…

Para cunhar o termo desfavorfobia, para dizer que nem viu porque estava ocupado beijando na boca ontem ou ainda para torcer para a lei passar só para ver o que a gente vai fazer: sally@desfavor.com


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